quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A revolução encalhada numa @

A língua é uma parte enorme do nosso universo simbólico, da forma como comunicamos e representamos o mundo. O português, como todas as línguas (desconheço qualquer excepção, mas talvez exista...), invisibiliza metade da humanidade, as mulheres.

Isto para reafirmar que é inegável a importância - essencial - da língua, bem como que ela visibilize e inclua todas as pessoas. É um direito humano, ser visível. É além disso o português uma língua viva - por oposição a uma língua morta, como o latim - que vai se transformando todos os dias e tem toda a potencialidade para o fazer (falsos neutros incluídos).

Por tudo isto fico perplexa com a dificuldade e a luta que significa conseguir incorporar o masculino e o feminino naquilo que escrevemos e dizemos (isto para não falar ainda das várias identidades de género possíveis). Estou sempre a ouvir: "isso não é importante" [este argumento é pura desonestidade intelectual, é como dizer que não é importante falar, escrever, comunicar ou ser visível], ou "não tenho tempo", "isso é difícil", "não é prático". É sobre estes últimos argumentos que reside a minha maior perplexidade. Ouvindo-os da esquerda à direita, quando os ouço na esquerda fico, literalmente, de boca aberta. Então pessoas que querem um outro mundo possível encalham numa simples @, num o/a/x? Queremos uma revolução fácil, prática, que não nos tome tempo? Queremos uma revolução que transforme a face do mundo de forma mais inclusiva, igualitária e emancipadora, e custa-nos tentar mudar, ligeiramente, uma frase? Carai!!!....

O que resta para explicar isto não é um argumento, mas uma razão profunda (raramente admitida): a de pensar que metade da humanidade ter uma história de invisibilidade e assim se manter é uma coisa de somenos importância. Bom ... e isso... isso é grave. É, basicamente, machismo interiorizado e ainda por resolver.Que venha outro futuro possível.

Um comentário:

  1. "la libertad es imaginar um mundo perfecto" está escrito numa parede da minha casa em Montevideo. (creio que serão do Eduardo Galeano, mas não juro) Levo estas palavras comigo. E ofereço-tas.

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